Teleatendimento
Vai estar consumindo a paciência
Que me está faltando
Para finalmente estar-me dando
Provas de sua indecência
Um número de protocolo
Das ligações que por ventura
Virão a ser as agrugras
Das tardes outrora tão puras
"Em que posso ajudar?"
Por favor, minha conta de ... pi, pi ,pi
"Deixe-me no sistema buscar"
Devo chorar para não rir.
Queria mesmo era espancar
O sistema e o operador
Injetar um virus no ordenador
Para todas as contas cancelar
"Seu protocolo estará sendo arquivado
E seu pedido será julgado"
Por quem? Ora, por vocês fui lesado!
Nessa insana relação de ladrão que julga roubado.
Wednesday, November 18, 2009
Thursday, November 05, 2009
A má educação, ou: sobre sexo, dominó e 'falcudade'.
Uma das primeiras imagens que aparecem no google ao se procurar por 'faculdade'
A mente de um estudante de graduação da UFPE aos 20 e pouquinhos ocupa 90% dos neurôneos com sexo, dominó e "falcudade", como diriam os paulistas.
O sexo tende a melhorar com o tempo, aprendemos, experiementamos, sintetizamos e isso ocupa nossa mente até que a libido dá lugar ao reumatismo. O dominó é uma arte complexa: estratégia, blefes e sorte se combinam numa mistura que só tem paralelo no futebol, pois em ambos alguém que não joga nada, pode ganhar. Estudar talvez seja o ofício mais científico porém menos preciso de todas essas atividades.
Durante as duas semanas passadas fiz um exercicio com os alunos da pós-graduação em botânica onde avaliamos o grau de conhecimento de 83 alunos de graduação em questões relacionadas à conservação da biodiversidade e meio-ambiente. Foi um desastre! Apesar da grande maioria dos alunos (~75%) terem expressado intenção em trabalhar com biologia da conservação, menos de 20% puderam fazer uma estimativa aproximada do número de espécies descritas pela ciência. A porcentagem de acerto do nome do ministro do meio-ambiente (Carlos Minc) ficou entre 0% e 50% nos para os três cursos de biologia da UFPE. Quando solicitados a citar dois "serviços ambientais/ecossistêmicos" (que por definição são os beneficios que recebemos do correto funcionamento dos ambientes naturais, ex: água, regulação do clima, solos férteis, etc...), foram respostas frequentes: IBAMA, CPRH etc...(sic). Cerca de 20% não tem nenhum conhecimento de estratégias de conservação e a percepção dos alunos sobre o número de disciplinas que abordam o tema: 'conservação da biodiversidade' ficou entre uma e duas (1 e 2) das cerca de 45 disciplinas que são necessárias para se formar um biólogo na UFPE.
Conclusão: da academia dificilmente sairão prefissionais qualificados para lidar com os crescentes de demandantes problemas ambientais do nosso planeta. No entanto, poderemos manter a fama de "latinos calientes", que muita receita nos gera pelo turismo internacional-sexual e ganhar um ou muitos mundiais de dominó. Enquanto isso no congresso.... tentam acabar com o código florestal e o Brasil não consegue se impor nas negociações globais sobre o clima para incluir florestas dentro dos mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL).
Friday, October 30, 2009
Espelhos
Nossa própria história, da humanidade, pode ser contada em prosa.
Eduardo Galeano, no seu último livro "Espelhos, uma história quase univesal" faz um passeio sobre fatos e personagens conhecidos e menos conhecidos da nossa história de uma maneira especial.
O livro começa assim :
(tradução livre)
DE DESEJO SOMOS
A vida, sem nome, sem memória, estava só. Tinha mãos mas não a quem tocar. Tinha boca mas não tinha com quem falar. A vida era uma, e sendo uma era nenhuma.
Então o desejo disparou seu arco. E a flecha do desejo partiu a vida ao meio, e a vida foi duas.
As duas se encontraram e riram. Era gostoso se ver e se tocar também.
Eduardo Galeano, no seu último livro "Espelhos, uma história quase univesal" faz um passeio sobre fatos e personagens conhecidos e menos conhecidos da nossa história de uma maneira especial.
O livro começa assim :
(tradução livre)
DE DESEJO SOMOS
A vida, sem nome, sem memória, estava só. Tinha mãos mas não a quem tocar. Tinha boca mas não tinha com quem falar. A vida era uma, e sendo uma era nenhuma.
Então o desejo disparou seu arco. E a flecha do desejo partiu a vida ao meio, e a vida foi duas.
As duas se encontraram e riram. Era gostoso se ver e se tocar também.
Wednesday, September 02, 2009
É hoje que não é.
Novo concurso, agora é para professor sub(pro)stituto de botânica criptogâmica (é quase um palavrão) na UFPE... Acho que nem quero passar!
Enquanto isso, vivo de bolsa numa espécie de pos-graduação em administração de ONGs. Vou reprovando tudo que é matéria, por sinal.
Situação laboral indefinida, bolsa em vez de salário mas, projetos persistentes.
Estou já chutando o pau da barraca! Vou-me embora para Roraima. Lá pelo menos é perto da Venezuela que tem um governo socialista-bolivariano e talvez estejam precisando de biólogos.
Calma, calma, calma...
Esse fim de semana vi um documentário sobre Amyr Klink. É legal ver um cara franzino falar de como atravessou a remo o Atlântico e como cicunavegou a Antártica mas, isso é pra outra postagem...
Enquanto isso, vivo de bolsa numa espécie de pos-graduação em administração de ONGs. Vou reprovando tudo que é matéria, por sinal.
Situação laboral indefinida, bolsa em vez de salário mas, projetos persistentes.
Estou já chutando o pau da barraca! Vou-me embora para Roraima. Lá pelo menos é perto da Venezuela que tem um governo socialista-bolivariano e talvez estejam precisando de biólogos.
Calma, calma, calma...
Esse fim de semana vi um documentário sobre Amyr Klink. É legal ver um cara franzino falar de como atravessou a remo o Atlântico e como cicunavegou a Antártica mas, isso é pra outra postagem...
Thursday, August 20, 2009
Ansiedades

Ontem foi uma noite interessante, me tornei consciente de algumas causas dessa coisa que aflinge a tanta gente a alimenta outras quantas. A ansiedade. Talvez um tratado esotérico e pseudo-intelectual fosse a fórmula adequada de transformar uma simples noite de reflexão em um livro de auto-ajuda e ganhar um dinherinho. Na falta de vocação para esse "business" eu escrevo algumas linhas num blog subexistente.
É nisso que dá, fumar unzinho às 10 da noite, com todos já adormecidos em casa. Deicei só uma luzinha ligada na cabeceira do sofá. Comecei vendo futebol na tv, o que não me entreteve po mais de 5 min. Desliguei aquela "caixa mágica" e fiquei pensando:
- Porque ela está cada vez maior, 14, 20, 29, 42 polegadas?
- Porque tem um lugar especial na sala? Porque os sofá está justo defronte dessa caixa?
Resolvida a questão, entendi que são os tempos, que a era moderna, que a alienação, que isso, que aquilo, blá, blá, blá. Que saco! Fui pensar em coisas mais práticas, por exemplo...
- Porque comprar um apartamento quando não tenho dinheiro nem pra pegar um ônibus?
Só de pensar na pergunta, me deu uma agonia. Televisão, apartamento... falta o que? Claro, trabalho. Comecei a pensar no trabalho e pimba! Encontrei uma coisa interessante para arriar a lombra. Comecei a preparar o debate sobre Darwin e a Evolução que traverei com meu estimado amigo Érico, hoje na Saraiva da "caverna". Isso me consumiu pelo menos 2 horas de leituras e anotações que me deixaram satisfeitos. gosto do que faço.
Mas faltava alguma coisa... Ah, claro, família. Isso completava a tríade da sociedade moderna: posses, trabalho e família. Pensei en Nina que hoje faz uma entrevista de emprego e em Chico que anda fascinado por seu novo herói, Bolt, o cachorro super-ação. Engraçado, não me vieram perguntas esquisitas sobre eles, nada profundo. Pensei nos dois dormindo... Legal.
É, quanto tempo se perde vendo tv, pensando-se em comprar apartamento quando não posso nem morrer. Comecei a observar meu comportamento de há alguns dias e é notória minha ansiedade com todas essas coisas rondando minha cabeça. Pensei em vários ditados populares e na verdade prática que eles contêm. Essa coisa de aproveitar a vida, de evitar a ansiedade, de buscar a paz, blá, blá, blá.
- Chega, de novo não.
Fui dormir.
Monday, June 08, 2009
Para Mario Benedetti
Te quiero
Mario Benedetti
Tus manos son mi caricia
mis acordes cotidianos
te quiero porque tus manos
trabajan por la justicia
si te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice y todo
y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos
tus ojos son mi conjuro
contra la mala jornada
te quiero por tu mirada
que mira y siembra futuro
tu boca que es tuya y mía
tu boca no se equivoca
te quiero porque tu boca
sabe gritar rebeldía
si te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice y todo
y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos
y por tu rostro sincero
y tu paso vagabundo
y tu llanto por el mundo
porque sos pueblo te quiero
y porque amor no es aureola
ni cándida moraleja
y porque somos pareja
que sabe que no está sola
te quiero en mi paraíso
es decir que en mi país
la gente viva feliz
aunque no tenga permiso
si te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice y todo
y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos.
Mario Benedetti
Tus manos son mi caricia
mis acordes cotidianos
te quiero porque tus manos
trabajan por la justicia
si te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice y todo
y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos
tus ojos son mi conjuro
contra la mala jornada
te quiero por tu mirada
que mira y siembra futuro
tu boca que es tuya y mía
tu boca no se equivoca
te quiero porque tu boca
sabe gritar rebeldía
si te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice y todo
y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos
y por tu rostro sincero
y tu paso vagabundo
y tu llanto por el mundo
porque sos pueblo te quiero
y porque amor no es aureola
ni cándida moraleja
y porque somos pareja
que sabe que no está sola
te quiero en mi paraíso
es decir que en mi país
la gente viva feliz
aunque no tenga permiso
si te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice y todo
y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos.
Tuesday, January 06, 2009
Espalhadas pelo ar
Enquanto não publico nada mirabolante nem mesmo algo chato nesse blog, vai um filminho interessante.
Sunday, November 02, 2008
Existe dinheiro limpo para a conservação?
Esse artigo começa com uma pergunta intrigante que aparentemente não reflete o dilema ético por trás do tema da conservação biológica. Se não há dinheiro para nada, nem para tirar aos milhões de seres humanos da miséria, porque haveria para salvar espécies e recursos naturais que afinal estão
aí para satisfazer nossa fome de consumo? Antes de responder tal pergunta quero tratar primeiro de outra. Quem são os grandes financiadores a conservação? Como tudo na autalidade a pergunta não tem uma só resposta, mas várias. A primeira é, os grandes financiadores da conservação somos nós mesmos, cidadãos, dinheiro do contribuinte. De uma maneira ou de outra, pagamos o custo de práticas mais amigáveis que a sociedade exige aos governos que promovam, não só a sociedade civil como a industria e o comércio. Os preços de produtos ambientalmente mais amigáveis é, em geral, mais alto que os produtos que não adotam nenhuma prática amigável com o meio-ambiente. Enrtetanto, esse preço é mais óbvio que outros, vide: As grandes ONG's ambientalistas que atuam no mundo podem girar ao redor de 200 mdd por ano, arrecadados com milhonários, governos, coorporações, fundações (milhonários ou cooporações diefarçados de mecenas). Por ememplo, está na página da Conservation International o balanço anual de quanto arrecadam, com quem, onde gastam e com quê. Disponibilizam também quem são seus parceiros na empreitada da conservação, se pode ver de tudo, desde a água negra do capitalismo (conhecida como coca-cola), Intel, 3M, Alcoa, Mosanto até governos europeus vários e milhonários artistas como Harrison Ford. Na WWF conhecida pelo seu pandinha singelo que estampa o emblema, a situação não é diferente. No ultra-verde Greenpeace a política de arrecadação de fundos é mais estricta e eles se apoiam quase totalmente em doações de individuos ao redor do mundo, mas também de coorporações e artistas.
Bom, o fato de que grandes poluidores como os governos europeus e norte-americano, empresas como Alcoa, Monsanto e Coca-Cola estejam doando dinheiro para a conservação não significa que são empresas amigáveis ao meio ambiente. Mas podemos prescindir desse dinheiro para tomar medidas emergenciais de conservação? Absolutamente. Fazendo uma análise preagmática da história, não vivemos um momento propício à quebra de regras, e o jogo tem regras. Jogar com as regras do jogo e logo subvertê-las é o papel de todos esses movimentos altermundistas que afortunadamente mantêm vivas algumas visões de mundo mais elém do Homo consumens. Internet é seu principal meio de divulgação e resultou da carrida armamentista. Então é suja a net e não a usamos? Não. Monsanto cria transgênicos, agrotóxicos e outras coisas que são no mínimo debatíveis. Entretanto comemos grãos Monsanto. Se a Coca-cola quer doar 10 milhões de dólares para salvar rios, aceitemos. Se a Alcoa, quer salvar baleias orcas, por que não? Vale a pena lembrar que que lucros são exploração de mais-valia e portanto, pagamos. Tanto por contaminar quanto por conservar. Isso também traz diviendos para as empresas e coorporações, afinal pandas, baleias, selvas tropicais são excelente propaganda. Então estamos traindo a causa se aceitamos dinheiro de poluidores? Existe dinheiro que foi ganho sem poluir? E se vemos a oportuniudade de usar esse dinheiro inclusive para aumentar a pressão social sobre essas empresas? Afinal são comprometidas com o meio-ambiente, não?
Diante de uma crise ambiental global, a solução passa por mudanças estruturais da sociedade. Educação, hábitos de consumo, re-distribuição de renda, etc. Tudo isso são objetivos inevitáveis se queremos estender nossa estadia no planeta e vão levar algum tempo, talvez gerações. Mas é fato que não há dinheiro pra conservar e as demandas contunuam aumentando. Não quero esperar por governos europeus "conscientes" que doam fortunas para a conservação e que por outro lado têm uma pegada ecológica por habitante de 10 planetas terra. Se grandes empresas querem aliviar a culpa ou melhorar sua imagem, que paguem por isso, como todos nós mortais.
aí para satisfazer nossa fome de consumo? Antes de responder tal pergunta quero tratar primeiro de outra. Quem são os grandes financiadores a conservação? Como tudo na autalidade a pergunta não tem uma só resposta, mas várias. A primeira é, os grandes financiadores da conservação somos nós mesmos, cidadãos, dinheiro do contribuinte. De uma maneira ou de outra, pagamos o custo de práticas mais amigáveis que a sociedade exige aos governos que promovam, não só a sociedade civil como a industria e o comércio. Os preços de produtos ambientalmente mais amigáveis é, em geral, mais alto que os produtos que não adotam nenhuma prática amigável com o meio-ambiente. Enrtetanto, esse preço é mais óbvio que outros, vide: As grandes ONG's ambientalistas que atuam no mundo podem girar ao redor de 200 mdd por ano, arrecadados com milhonários, governos, coorporações, fundações (milhonários ou cooporações diefarçados de mecenas). Por ememplo, está na página da Conservation International o balanço anual de quanto arrecadam, com quem, onde gastam e com quê. Disponibilizam também quem são seus parceiros na empreitada da conservação, se pode ver de tudo, desde a água negra do capitalismo (conhecida como coca-cola), Intel, 3M, Alcoa, Mosanto até governos europeus vários e milhonários artistas como Harrison Ford. Na WWF conhecida pelo seu pandinha singelo que estampa o emblema, a situação não é diferente. No ultra-verde Greenpeace a política de arrecadação de fundos é mais estricta e eles se apoiam quase totalmente em doações de individuos ao redor do mundo, mas também de coorporações e artistas.
Bom, o fato de que grandes poluidores como os governos europeus e norte-americano, empresas como Alcoa, Monsanto e Coca-Cola estejam doando dinheiro para a conservação não significa que são empresas amigáveis ao meio ambiente. Mas podemos prescindir desse dinheiro para tomar medidas emergenciais de conservação? Absolutamente. Fazendo uma análise preagmática da história, não vivemos um momento propício à quebra de regras, e o jogo tem regras. Jogar com as regras do jogo e logo subvertê-las é o papel de todos esses movimentos altermundistas que afortunadamente mantêm vivas algumas visões de mundo mais elém do Homo consumens. Internet é seu principal meio de divulgação e resultou da carrida armamentista. Então é suja a net e não a usamos? Não. Monsanto cria transgênicos, agrotóxicos e outras coisas que são no mínimo debatíveis. Entretanto comemos grãos Monsanto. Se a Coca-cola quer doar 10 milhões de dólares para salvar rios, aceitemos. Se a Alcoa, quer salvar baleias orcas, por que não? Vale a pena lembrar que que lucros são exploração de mais-valia e portanto, pagamos. Tanto por contaminar quanto por conservar. Isso também traz diviendos para as empresas e coorporações, afinal pandas, baleias, selvas tropicais são excelente propaganda. Então estamos traindo a causa se aceitamos dinheiro de poluidores? Existe dinheiro que foi ganho sem poluir? E se vemos a oportuniudade de usar esse dinheiro inclusive para aumentar a pressão social sobre essas empresas? Afinal são comprometidas com o meio-ambiente, não?
Diante de uma crise ambiental global, a solução passa por mudanças estruturais da sociedade. Educação, hábitos de consumo, re-distribuição de renda, etc. Tudo isso são objetivos inevitáveis se queremos estender nossa estadia no planeta e vão levar algum tempo, talvez gerações. Mas é fato que não há dinheiro pra conservar e as demandas contunuam aumentando. Não quero esperar por governos europeus "conscientes" que doam fortunas para a conservação e que por outro lado têm uma pegada ecológica por habitante de 10 planetas terra. Se grandes empresas querem aliviar a culpa ou melhorar sua imagem, que paguem por isso, como todos nós mortais.
Saturday, October 04, 2008
02 de octubre no se olvida
O jornalista Zuenir Ventura no seu livro "1968: o ano que não terminou" descreve esse ano como um período intenso, onde as utopias banhavam o mundo. Em vários lugares do hemisfério ocidental os gritos clamavam por um mundo reconhecidamente impossível, até de se imaginar. França, EEUU, Brasil, Tchecoslováquia, México... Esse ano talvez nunca tenha terminado mesmo, as utopias continuam a vagar. No Brasil o AI-5 já em dezembro estendeu uma nuvem negra sobre a nação que nublou esse fim de ano.
Já no México, esse ano ficou na memória do país, não pelos jogos olímpicos que sediavam, mas por um evento trágico. No dia 02 de outubro de 1968, centenas de estudantes secudaristas e universitários foram covardemente assassinados pelo exército, numa emboscada friamente planejada em plena "plaza de las 3 culturas". Rosário Castellanos, uma excelente poetisa mexicana, escreveu que a praça amanheceu varrida e lavada no dia 03 de outubro, que os jornais só falavam do tempo. O esquecimento planejado estava em marcha. Mas não foi assim, esse se tornou o dia que não se esquece, que ninguém esquece, mesmo os que não estavam aí, mesmo os que ainda nem tinham nascido. A memória dos mexicanos é relamente boa e viva, apesar dos fortes trabalhos de entorpecimento que a televisão e os meios de comunicação massiva tentam realizar.
No último 02 de outubro, fui a uma passeata organizada para lembrar que há 40 anos o sonho e a utopia foram afugentados à ferro e fogo. Mas ironicamente, a palavra de ordem era, não ao esquecimento, era dizer que o sonho continua vivo, que a utopia ainda vaga por aí. Que mesmo os que ainda nem sonhavam em nascer tampouco se esquecem do que nem viveram.
Eu, revivi uma coisa que por um tempo não experimentava, ganhar a cidade a pé, a maior cidade mundo, percorrida a passos. As mesmas ruas que normalmente estão sendo machucadas pelos carros e ônibus com pressa, a pressa de sempre, de nada. O silêncio dos edifícios que nos viam, aos milhares, lembrando de um sonho que maioria nem sonhou. Dentro desses, engravatados atrás das grades a mirar impassivos, eram a imagem patética de quem ridiculariza sonhos. E lembrei dos meus prórpios sonhos e utopias, outrora postos ao lado, por desleixo e falta de cuidado. Lembrei da esperança que sinto, que o mundo ainda é pra se viver, que por isso tive um filho. Que por isso escolhi ser biólogo, que ser ator e autor do mundo é nossa missão...lembrei de tudo.
Clique aqui para ver fotos da passeata.
Já no México, esse ano ficou na memória do país, não pelos jogos olímpicos que sediavam, mas por um evento trágico. No dia 02 de outubro de 1968, centenas de estudantes secudaristas e universitários foram covardemente assassinados pelo exército, numa emboscada friamente planejada em plena "plaza de las 3 culturas". Rosário Castellanos, uma excelente poetisa mexicana, escreveu que a praça amanheceu varrida e lavada no dia 03 de outubro, que os jornais só falavam do tempo. O esquecimento planejado estava em marcha. Mas não foi assim, esse se tornou o dia que não se esquece, que ninguém esquece, mesmo os que não estavam aí, mesmo os que ainda nem tinham nascido. A memória dos mexicanos é relamente boa e viva, apesar dos fortes trabalhos de entorpecimento que a televisão e os meios de comunicação massiva tentam realizar.
No último 02 de outubro, fui a uma passeata organizada para lembrar que há 40 anos o sonho e a utopia foram afugentados à ferro e fogo. Mas ironicamente, a palavra de ordem era, não ao esquecimento, era dizer que o sonho continua vivo, que a utopia ainda vaga por aí. Que mesmo os que ainda nem sonhavam em nascer tampouco se esquecem do que nem viveram.
Eu, revivi uma coisa que por um tempo não experimentava, ganhar a cidade a pé, a maior cidade mundo, percorrida a passos. As mesmas ruas que normalmente estão sendo machucadas pelos carros e ônibus com pressa, a pressa de sempre, de nada. O silêncio dos edifícios que nos viam, aos milhares, lembrando de um sonho que maioria nem sonhou. Dentro desses, engravatados atrás das grades a mirar impassivos, eram a imagem patética de quem ridiculariza sonhos. E lembrei dos meus prórpios sonhos e utopias, outrora postos ao lado, por desleixo e falta de cuidado. Lembrei da esperança que sinto, que o mundo ainda é pra se viver, que por isso tive um filho. Que por isso escolhi ser biólogo, que ser ator e autor do mundo é nossa missão...lembrei de tudo.
Clique aqui para ver fotos da passeata.
Saturday, September 27, 2008
A crise é outra
Não gosto de comentar noticias da gringolândia, geralmente são tendenciosas e vendidas como importantes ainda que para nós, alheios.
Entretanto, essa tal crise econômica que viven atualmente é notícia realmente importante principalmente para nós mortais do 3ro mundo. Por quê? Ora, esse é o modelo de economia que muitos países têm perseguido com afinco, principlamente nos malditos anos de fundamentalismo liberal da década de 90.
Um excelente série de textos sobre esse fenômeno de crise se publicou na Agência Carta Maior e traz a tona o que a imprensa oficial tem vergonha de assumir. Que o modelo econômico de liralaização, desregularização e estado mínimo é um farsa. Irônicamente o próprio estado que não deveria intervir na economia é quem os está salvando agora. A velha máxima yuppie de privatizar lucros e socializar prejuízos se aplica descaradamente. Os analistas econômicos da TV... ai, ai, ai.
Particularmente, me preocupo com o apredizado (ou não apredizado) que nos tratá esse episódio. A economia baseada em giros de dinheiro, em "bolhas" especulativas, em "passivos ambientais"... Sempre a mesma equação desigual, sempre o crescimento ad infinitum, o cálculo de "gastos" com educação, saúde ou meio-ambiente. Parece que só uma ecatombe poderá mudar os rumos que temos escolhido.
Como se vê estou pessimista hoje.
Entretanto, essa tal crise econômica que viven atualmente é notícia realmente importante principalmente para nós mortais do 3ro mundo. Por quê? Ora, esse é o modelo de economia que muitos países têm perseguido com afinco, principlamente nos malditos anos de fundamentalismo liberal da década de 90.
Um excelente série de textos sobre esse fenômeno de crise se publicou na Agência Carta Maior e traz a tona o que a imprensa oficial tem vergonha de assumir. Que o modelo econômico de liralaização, desregularização e estado mínimo é um farsa. Irônicamente o próprio estado que não deveria intervir na economia é quem os está salvando agora. A velha máxima yuppie de privatizar lucros e socializar prejuízos se aplica descaradamente. Os analistas econômicos da TV... ai, ai, ai.
Particularmente, me preocupo com o apredizado (ou não apredizado) que nos tratá esse episódio. A economia baseada em giros de dinheiro, em "bolhas" especulativas, em "passivos ambientais"... Sempre a mesma equação desigual, sempre o crescimento ad infinitum, o cálculo de "gastos" com educação, saúde ou meio-ambiente. Parece que só uma ecatombe poderá mudar os rumos que temos escolhido.
Como se vê estou pessimista hoje.
Saturday, September 20, 2008
A estória das coisas

Um bom filminho para refletir sobre o consumo e o "A estória das coisas"
Qual o destino da civilização do consumo? Poderemos consumir responsavelmente algum dia?
Estamos mesmo é mal-acostumados a uma fartura que não durará muito.
Tuesday, September 16, 2008
Ressureição
Decidi, definitivamente ressucitar o blog. Nos próximos dias ele vai ganhar novo visual e novas postagens. Meus 3 ou 4 leitores poderam voltar e xeretar as Mirabolâncias.
Saturday, November 03, 2007
Os mortos



No que há e mais parecido a um carnaval no México, todos se disfarçam e vão às ruas para comemorar o dia de mortos, cada vez mais parecido a um halloween gringo. Se vêem vapiros, diabinhos, uma infinidade de Chucks e Freddys assassinos. Poucas mas bem produzidas meninas vestidas de Catrina são algo que vale a pena ver. Não tenho ideia da quantidade de pessoas que ainda fazem altares para seus mortos, com todas as coisinhas miúdas que eles gostavam...cigarros, tequila, música, comida. Engraçado, assumimos que o que os mortos têm saudade mesmo é dessas coisas que na verdade são o que somos, nossos vícios, virtudes e gulas. Por isso, fiz pra minha comadre Keka e meu amigo Alexandre, um altarzinho com todas essas coisas mencionadas já que os dois eram da boemia. É diferente pensar nos mortos aqui no México.
Esse ano na UNAM o tema das oferendas era José Guadalupe Posada, talvez o artista gráfico que mais deu cara à morte moderna mexicana. Ele usava a representação mais simples e ao mesmo tempo mais completa da morte, as caveiras, os esqueletos. Seus gravados satirizavam a alta sociedade e os políticos do México há mais ou menos 100 anos. Guadalupe dizia que a morte é democrática e todos um dia vamos virar caveira. A morte ganhava contexto de revolução comunista, igualando a todos uma vez que somos só ossos, despidos.
Sunday, October 28, 2007
Reflexõs ocasionais
Conhecer um pouco da língua espanhola tem me conduzido por um mundo desconhecido. Eduardo Galeano, por exemplo, a quem eu já tinha lido nos meus 16 anos e que me levou de viagem pelas veias abertas do nosso continente, voltei a encontrar agora em sua língua natal. Aquela América que conheci por ele, falava um idioma que me soava algo sensual mas também patético, pois era coisa de la garantía soy yo, era um idioma meio... "paraguaio". Voltei a ler Galeano em duas ocasiões aqui no México. A primeira, uma coleção de crônicas sobre futebol cuja edição que possuo traz ao time do Santa Cruz retratado ao estilo bonecos de barro. El fútbol a sol y sombra é a meneira de um uruguaio ver esse tão maravilhoso esporte. As crônicas são embebidas de uma maneira muito peculiar de pensar de Galeano. Ele atribui a nós latinoamericanos a criação do futebol esporte, já que esse antes era jogo de bárbaros ingleses que até canivete levavam ao campo. Afirma que foram os negros do Brasil e os guaranís da Bacia do Prata que deram ao futebol a magia e a alegria que até há pouco tempo caracterizava o futebol sul-americano. Dessa maneira, Galeano afirma novamente a importância do latino modo de ser.
Agora estou lendo Memoria del Fuego (vol. 1) que é uma história alternativa da América, segundo palavras do próprio autor. Numa poética e ampla narrativa em forma de micro contos, Galeano reproduz personagens e histórias de ambos lados do frente de batalha pela conquista da América. Somos a mesma ferida aberta. Por culpa de Eduardo Galeano a latinidade ideologizada e intelectualizada se meteu na minha cabeça. Agora com um pouco do espanhol dominado, com Cem anos de solidão e Don Quixote na fila de leituras em espanhol, começo a entender um pouco mais dos nossos vizinhos, começo a entender de verdade que significaria esse sonho realizado de uma América unida. Essa alma de Quixote é nossa de berço, assim como o ingenioso hidalgo, fazemos de cada derrota, uma épica vitória .
Agora estou lendo Memoria del Fuego (vol. 1) que é uma história alternativa da América, segundo palavras do próprio autor. Numa poética e ampla narrativa em forma de micro contos, Galeano reproduz personagens e histórias de ambos lados do frente de batalha pela conquista da América. Somos a mesma ferida aberta. Por culpa de Eduardo Galeano a latinidade ideologizada e intelectualizada se meteu na minha cabeça. Agora com um pouco do espanhol dominado, com Cem anos de solidão e Don Quixote na fila de leituras em espanhol, começo a entender um pouco mais dos nossos vizinhos, começo a entender de verdade que significaria esse sonho realizado de uma América unida. Essa alma de Quixote é nossa de berço, assim como o ingenioso hidalgo, fazemos de cada derrota, uma épica vitória .
Saturday, October 20, 2007
Caçada
Pequei! Atuei contra minha religião. Ontem a convite de Raymundo saí para caçar.
"Mas que diabos faz um biólogo caçando?" Pensei. Foi irresistível o convite para sair em canoa, atravessar o rio Hondo até Belize, remar mais de uma hora debaixo do sol escaldante das duas da tarde, passar por pastagens naturais inundadas pelo crescido rio, ver aves aquáticas, selvas inundadas, uma mistura de pantanal com amazônia em pleno Caribe. Tudo isso pra caçar um veado. Assim foi. Chegamos a uma ilha de floresta rodeada por pastos inundados por mais de 1m de água que se transbordou das margens desse estreito mas farto rio que divide México de Belize cujo curso segue uma falha geológica que gerou também lagoas por toda essa zona. Eu como bom branquelo, amarelo, leitoso, já estava com os braços rosados, resultado do forte sol. Mais um motivo para Raymundo passar mais de meia hora fazendo das suas piadas sobre minha suposta origem "gringa". Ah, conosco ia também Estéban, compadre de Raymundo e seu dois cachorros: Bombero, de meia língua, depois que um facão acidentalmente usado cortou a metade; e Shaggy, em homenagem a um cantor de Reggeaton que tanto lhe agrada. Dois autênticos vira-latas puro sangue. Estéban é um homem muito supersticioso, me contou que uma vez um jacaré lhe mordei a cabeça, nada grave porém só sarou completamente depois que ele matou o dito cujo e o comeu. Estéban e eu íamos debatendo sobre a eficiência do seu método para limpar narizes de cachorro que consistia em passá-los por baixo da canoa 9 vezes para que espirraram todo o catarro depois de engolir muita água pelos narizes. Raymundo só ria, e remava, numa postura muito confiante como se observara a dois meninos discutirem sobre assuntos sem importância. Enfim chegamos à ilha de floresta. Estéban desceu da canoa com água pelos peitos e seus dois cachorros o seguiam meio nadando meio escalando as cortantes folhas de capim-tiririca. Raymundo e eu, remamos de volta ao lugar que segundo seu faro de caçador seria por onde os veados iam passar nadando depois de espantados pelos cachorros. Eu confesso que até gostei da idéia de ficar esperando os bichos na canoa, pois andar pela ilha de floresta todo molhado, seguindo vira-latas entre milhares de troncos caídos como resultado do furacão Dean era um tanto sofrível.
Pois saímos para dar volta ao lugar previsto por Raymundo como passagem de veado. Pensei: "será possível que esse danado possa prever por onde vão sair os veados?" Mal terminei de pensar essa bobagem quando vejo um veado nadando a escassos 20 metros da nossa canoa. Gritei como um desesperado apontando o bicho que Raymundo ainda não tinha divisado. Um parênteses: esse foi meu maior orgulho, tê-lo visto antes de meu amigo, que só não o veria um segundo depois se fosse cego, mas foi meu orgulho. Raymundo se levanta na canoa, me ordena parar de remar e dispara, falhou, não acertou o bicho que agora parecia correr sobre a água. Raymundo volta a sentar-se e me grita: rema Felipe, rema porra, rema caralho, não pare de remar, mais forte porra! Eu parecia um motor de 200 cavalos, remando e vendo que aos poucos íamos alcançando o bicho que já quase chagava num mangue onde poderia salvar sua vida de tão impenetrável que eram as raízes. Nesse momento o veado deu meia volta e começou a nadar na direção contrária. Foi perfeito, Raymundo mandou-me parar de remar, a canoa foi se acalmando e ele se levantou novamente disparando um certeiro tiro na cabeça do animal que aí mesmo ficou boiando e sangrando. Eu gritei como um índio de faroeste, feliz da vida subi o animal à canoa. Nessa hora me dei conta do sucedido, da emoção da perseguição, do esforço físico, da satisfação de caçar. Me lembrei de uma sensação parecida que sentia ao caçar passarinho, ao pescar no Pontal de Maracaípe por horas seguidas, de matar gatos à badocadas em Maceió na casa de minha Tia Nice. Tive muitas horas mais para pensar num monte de coisas, pois ficamos esperando que saísse outro veado nesse lugar de água e selva. Pensei no que nos une aos primeiros hominídeos, pensei na nossa natureza humana. Mais além da questão da conservação da natureza... pensei nos nossos hábitos modernos, nos supermercados, no fast-food, na comida maravilhosa que desfrutei nos restaurantes. Pensei que comer passou a ser só comer, que quase não se cozinha e se sim, com tantas facilidades que nem sentimos. Plantar, caçar, só em aventuras ou como terapia ocupacional. Pensei que Chico provavelmente não caçará passarinhos, nem lagartixas. Não por ser politicamente incorreto, mas porque em 10 anos seremos quase 9 bilhões de seres humanos na terra e que qualquer passarinho ou veado fará a diferença. Pensei que Raymundo caçaria o veado comigo ou sem mim com tem feito toda sua vida pra ver se aliviava a culpa que não sentia. Pensei que pelo menos plantar deveria ser matéria obrigatória na escola, que todos deveríamos conhecer no mínimo o que significa produzir alimentos. E... depois de tudo isso, comi um caldo de veado maravilhoso.
"Mas que diabos faz um biólogo caçando?" Pensei. Foi irresistível o convite para sair em canoa, atravessar o rio Hondo até Belize, remar mais de uma hora debaixo do sol escaldante das duas da tarde, passar por pastagens naturais inundadas pelo crescido rio, ver aves aquáticas, selvas inundadas, uma mistura de pantanal com amazônia em pleno Caribe. Tudo isso pra caçar um veado. Assim foi. Chegamos a uma ilha de floresta rodeada por pastos inundados por mais de 1m de água que se transbordou das margens desse estreito mas farto rio que divide México de Belize cujo curso segue uma falha geológica que gerou também lagoas por toda essa zona. Eu como bom branquelo, amarelo, leitoso, já estava com os braços rosados, resultado do forte sol. Mais um motivo para Raymundo passar mais de meia hora fazendo das suas piadas sobre minha suposta origem "gringa". Ah, conosco ia também Estéban, compadre de Raymundo e seu dois cachorros: Bombero, de meia língua, depois que um facão acidentalmente usado cortou a metade; e Shaggy, em homenagem a um cantor de Reggeaton que tanto lhe agrada. Dois autênticos vira-latas puro sangue. Estéban é um homem muito supersticioso, me contou que uma vez um jacaré lhe mordei a cabeça, nada grave porém só sarou completamente depois que ele matou o dito cujo e o comeu. Estéban e eu íamos debatendo sobre a eficiência do seu método para limpar narizes de cachorro que consistia em passá-los por baixo da canoa 9 vezes para que espirraram todo o catarro depois de engolir muita água pelos narizes. Raymundo só ria, e remava, numa postura muito confiante como se observara a dois meninos discutirem sobre assuntos sem importância. Enfim chegamos à ilha de floresta. Estéban desceu da canoa com água pelos peitos e seus dois cachorros o seguiam meio nadando meio escalando as cortantes folhas de capim-tiririca. Raymundo e eu, remamos de volta ao lugar que segundo seu faro de caçador seria por onde os veados iam passar nadando depois de espantados pelos cachorros. Eu confesso que até gostei da idéia de ficar esperando os bichos na canoa, pois andar pela ilha de floresta todo molhado, seguindo vira-latas entre milhares de troncos caídos como resultado do furacão Dean era um tanto sofrível.
Pois saímos para dar volta ao lugar previsto por Raymundo como passagem de veado. Pensei: "será possível que esse danado possa prever por onde vão sair os veados?" Mal terminei de pensar essa bobagem quando vejo um veado nadando a escassos 20 metros da nossa canoa. Gritei como um desesperado apontando o bicho que Raymundo ainda não tinha divisado. Um parênteses: esse foi meu maior orgulho, tê-lo visto antes de meu amigo, que só não o veria um segundo depois se fosse cego, mas foi meu orgulho. Raymundo se levanta na canoa, me ordena parar de remar e dispara, falhou, não acertou o bicho que agora parecia correr sobre a água. Raymundo volta a sentar-se e me grita: rema Felipe, rema porra, rema caralho, não pare de remar, mais forte porra! Eu parecia um motor de 200 cavalos, remando e vendo que aos poucos íamos alcançando o bicho que já quase chagava num mangue onde poderia salvar sua vida de tão impenetrável que eram as raízes. Nesse momento o veado deu meia volta e começou a nadar na direção contrária. Foi perfeito, Raymundo mandou-me parar de remar, a canoa foi se acalmando e ele se levantou novamente disparando um certeiro tiro na cabeça do animal que aí mesmo ficou boiando e sangrando. Eu gritei como um índio de faroeste, feliz da vida subi o animal à canoa. Nessa hora me dei conta do sucedido, da emoção da perseguição, do esforço físico, da satisfação de caçar. Me lembrei de uma sensação parecida que sentia ao caçar passarinho, ao pescar no Pontal de Maracaípe por horas seguidas, de matar gatos à badocadas em Maceió na casa de minha Tia Nice. Tive muitas horas mais para pensar num monte de coisas, pois ficamos esperando que saísse outro veado nesse lugar de água e selva. Pensei no que nos une aos primeiros hominídeos, pensei na nossa natureza humana. Mais além da questão da conservação da natureza... pensei nos nossos hábitos modernos, nos supermercados, no fast-food, na comida maravilhosa que desfrutei nos restaurantes. Pensei que comer passou a ser só comer, que quase não se cozinha e se sim, com tantas facilidades que nem sentimos. Plantar, caçar, só em aventuras ou como terapia ocupacional. Pensei que Chico provavelmente não caçará passarinhos, nem lagartixas. Não por ser politicamente incorreto, mas porque em 10 anos seremos quase 9 bilhões de seres humanos na terra e que qualquer passarinho ou veado fará a diferença. Pensei que Raymundo caçaria o veado comigo ou sem mim com tem feito toda sua vida pra ver se aliviava a culpa que não sentia. Pensei que pelo menos plantar deveria ser matéria obrigatória na escola, que todos deveríamos conhecer no mínimo o que significa produzir alimentos. E... depois de tudo isso, comi um caldo de veado maravilhoso.
Wednesday, October 17, 2007
Poema
As mulheres de cabelo curto
são como meninas em traje de lobas.
São uma espécie de quimera andrógina
cujo sexo está no pescoço, orelhas, nuca...
tudo exposto.
Graças ao des-manto de cabelos.
são como meninas em traje de lobas.
São uma espécie de quimera andrógina
cujo sexo está no pescoço, orelhas, nuca...
tudo exposto.
Graças ao des-manto de cabelos.
Saturday, September 08, 2007
A nossa marca no planeta

Esse semestre estou dando aulas de biologia da conservação novamente. Eu gosto de dar aulas, sobretudo quando se trata de de temas como a conservação da diversidade biológica no planeta. Um dos temas introdutórios trata dos efeitos do crescimento pupulacional sobre a biota do planeta. Mostramos aquelas curvas de crescimento da população humana nos últimos 5000 anos, estimamos a população do planeta para daqui a 10, 20, 50, 100 anos e o resultado é invariavelmente aterrador. Então começamos a entender porque o nosso impacto sobre o planeta é tão devastador. Nossos padrões de consumo, nosso estilo de vida, o capitalismo... tudo leva a uma equação sem igualdade, ao desbalanço. Bom, mas e eu com isso? Os hábitos e estilos de vida de cada um tem um impacto que pode ser medido e tem nome: pegada ecológica.
A pegada ecológica é um conceito fácil de se entender: é aquantidade de terra em hectares, que cada ser humano necessita para manter seu padrão de vida e consumo. Por exemplo, minha pegada ecológica sobre o planeta é de 3.7 hectares, o que significa que seriam necessários 2.1 planetas (já que atualmente só existem 1.8 hectares de terra produtiva por pessoa). Issoporque não uso carro...em compensação vôo em avião, como carne diariamente e produzo muito lixo. Querem ter um idéia de seu impacto sobre o planeta, calculem sua pegada ecológica e reflitam nos seus hábitos. Reflitamos sobre o futuro possível da nossa espécie. Não sei, mas acho que Chico viverá em tempos difíceis.
Thursday, August 23, 2007
Feliz
Aliviado agora por saber que na minha área de estudo ninguém teve sua casa destruida, ninguém se machucou e que somente algumas árvores caíram. Raimundo e sua família ainda têm casa, eu tenho meus experimentos intactos... Adeus Furacão!!!
Tuesday, August 21, 2007
No olho do Furacão
A lei de murphy é realmente poderosa. O pão sempre cai com manteiga pra baixo... e justamente quando estamos na penínsual de Yucatán vem um furacão categoria 5. É muito estranho ver as pessoas se prepararem para uma tragédia. Estávamos em Chetumal até o domingo dia 19 de manhã, um sol da moléstia e segunda à noite essa cidade onde vivem alguns dos bons amigos que fiz no México está inundada, sem energia e sem telefone. Até agora, 12:17 pm não consegui ligar para meu ajudante de campo que vive a 30 km ao sul de Chetumal e que seguramente deve ter perdido uma de suas casas (a de teto de palha) com a passagem do maldito furacão. Meus experimentos devem ter voado longe com ventos de 260 km por hora a sacudir as árvores da floresta que, espero esteja em pé ainda. Nós em Mérida estamos bem, aqui só chuva e um pouco de vento mas não posso deixar de pensar nas pessoas lá do lugar onde trabalho, sobre quem inclusive já escrevi nesse blog.
A natureza nos dá novamente uma boa ideia de nossa pequenês.
A natureza nos dá novamente uma boa ideia de nossa pequenês.
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