Saturday, October 04, 2008

02 de octubre no se olvida

O jornalista Zuenir Ventura no seu livro "1968: o ano que não terminou" descreve esse ano como um período intenso, onde as utopias banhavam o mundo. Em vários lugares do hemisfério ocidental os gritos clamavam por um mundo reconhecidamente impossível, até de se imaginar. França, EEUU, Brasil, Tchecoslováquia, México... Esse ano talvez nunca tenha terminado mesmo, as utopias continuam a vagar. No Brasil o AI-5 já em dezembro estendeu uma nuvem negra sobre a nação que nublou esse fim de ano.

Já no México, esse ano ficou na memória do país, não pelos jogos olímpicos que sediavam, mas por um evento trágico. No dia 02 de outubro de 1968, centenas de estudantes secudaristas e universitários foram covardemente assassinados pelo exército, numa emboscada friamente planejada em plena "plaza de las 3 culturas". Rosário Castellanos, uma excelente poetisa mexicana, escreveu que a praça amanheceu varrida e lavada no dia 03 de outubro, que os jornais só falavam do tempo. O esquecimento planejado estava em marcha. Mas não foi assim, esse se tornou o dia que não se esquece, que ninguém esquece, mesmo os que não estavam aí, mesmo os que ainda nem tinham nascido. A memória dos mexicanos é relamente boa e viva, apesar dos fortes trabalhos de entorpecimento que a televisão e os meios de comunicação massiva tentam realizar.

No último 02 de outubro, fui a uma passeata organizada para lembrar que há 40 anos o sonho e a utopia foram afugentados à ferro e fogo. Mas ironicamente, a palavra de ordem era, não ao esquecimento, era dizer que o sonho continua vivo, que a utopia ainda vaga por aí. Que mesmo os que ainda nem sonhavam em nascer tampouco se esquecem do que nem viveram.

Eu, revivi uma coisa que por um tempo não experimentava, ganhar a cidade a pé, a maior cidade mundo, percorrida a passos. As mesmas ruas que normalmente estão sendo machucadas pelos carros e ônibus com pressa, a pressa de sempre, de nada. O silêncio dos edifícios que nos viam, aos milhares, lembrando de um sonho que maioria nem sonhou. Dentro desses, engravatados atrás das grades a mirar impassivos, eram a imagem patética de quem ridiculariza sonhos. E lembrei dos meus prórpios sonhos e utopias, outrora postos ao lado, por desleixo e falta de cuidado. Lembrei da esperança que sinto, que o mundo ainda é pra se viver, que por isso tive um filho. Que por isso escolhi ser biólogo, que ser ator e autor do mundo é nossa missão...lembrei de tudo.

Clique aqui para ver fotos da passeata.

2 comments:

Val said...

fiquei bem emocionada Camarão! que bom reencontrar o amigo da adolescência ainda vivo em você.

Mila said...

Ménino, que bom é reviver, reencontrar os sonhos e as utopias de uma adolescência consciente e ativa. Que bom que você pôde encontrar aí no México algo em comum com a nossa cultura. Não quero reclamar da minha vida aqui, mas a única coisa que posso ver em comum são os engravatados olhando por detrás das grades, ridicularizando o sonho de uma América Latina livre e unida... E isso é triste!