Thursday, June 23, 2005

Doutorado: só os loucos sobreviven!

Capítulo 1

Eu realmente não tinha idéia de como seria minha vida durante um doutorado. A boa experiência de um mestrado tranquilo e sem complicações me acostumou mal. Estava em Recife, na UFPE, praticamente nascido e criado aí. Pois é, querendo ou não a UFPE era um apêndice das Repúblicas Independentes do Engenho do Meio, minha nação. Até nisso era bom, ia e voltava andando pra casa e nem sentia.
Aqui no México a coisa é bem distinta. Vou contar aqui somente como foi meu primeiro semestre de aventuras por aqui. Pra começar, cheguei no dia 30 de julho em Tenochtitlán, nesse mesmo dia me reuní com meu orientador, que no dia seguinte se foi a Stanford, Gringolândia, para nunca mais voltar. Pronto! Fiquei órfano quando apenas havía chegado. Até aí tudo bem, minha boa experiência de mestrado na UFPE em que meu orinttador nos imponia um didático “te vira” foi muito boa. Sim era didático, pois o desenrolar das nossas teses foi praticamente feito por nós mesmos, com a supervisão e leitura dinâmica dos nossos escritos pelo nosso orientador a cada versão da papelada. Isso ajudou muito aqui no México. Os primeiros mêses foram ótimos, tudo novo, aulas, pessoas, palestras, áreas de conhecimento... menos orientador. No final do semestre passei na matéria que fiz com um singelo 9 e me dei por satisfeito. Tudo corria bem. Só que aí veio a montanha russa de emoções do doutorado.
Em novembro de 2004 tive aprovado meu projeto na íntegra no lugar onde queria executá-lo, Manaus. Ganhei dinheiro e apoio para tal, estava feito “pinto na merda”, contente de ter aprovado o projeto nos 4 primeiros mêses. Qual o quê? Era bom demais pra ser verdade. E quando eu já tinha comemorado e planejava para ir a Manaus começar a trabalhar, vem uma “muchacha” da Gringolândia, ou melhor, uma “bitch” mal comida desse país de cornos e super-estrelas e bota areia nos meus planos. Envia uma carta ao comitê de manejo do projeto e diz que o meu tema é parte de seu território científico e não aceita que eu execute meu projeto neste lugar pois ela havia chegado primeiro e não queria niguém fazendo nada disso lá. Pra encurtar o drama, depois de muita troca de cartas e diplomacia científica fomos derrotados no tribunal superior do comitê de manejo e tivemos que retirar o projeto. Voltamos à estaca zero. Detalhe, tudo isso sem orientador presente para que me desse assessoria.
Aparte a UNAM vence qualquer instituição pública brasileira em termos de burocracia. É papel em 4 vias, assinado por 3 pessoas distintas, cada uma em uma cidade; carimbos, cópias de passaporte autenticada, declaração de bolsa, legalização na embaixada; tradução até de pensamentos, comprovantes de residência, de resistência, de procedência, de paciência... Tudo isso para se inscrever na pós... todo semestre! Obviamente fiquei como louco andando atrás de tudo isso e evidentemente quando eu achava que tudo estava bem, completo, e legal.
- Falta uma assinatura em um desses 8 formulários e esse documento tem que ser carimbado na pró-reitoria de assuntos relacionado a estudantes extrangeiros em desespero.
- AAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!
E depois de muita adrenalina consegui me inscrever, mas faltavam ainda um par de assinaturas de funcionários fantasmas que não encontrei nem por mágica.
Mas as emoções continuam e são ainda maiores no primeiro semestre desse ano. Mas isso fica pra um próximo capítulo da saga “Doutorado: só os loucos sobrevivem.”