Tuesday, April 17, 2007

Na Costa Rica




Lembro bem dos primeiros artigos e livros texto que li sobre ecologia de florestas tropicais há alguns anos. Muitos faziam reiteradas referências a trabalhos realizados numa das mais famosas estações de biologia tropical das Américas e do mundo, La Selva, na Costa Rica. De fato, a estação biológica de La Selva, que pertence a OET (Organização para Estudos Tropicais), tem mais de 40 anos funcionando em uma reserva de mais ou menos 1500ha. Nesse lugar, muitos pesquisadores mitológicos em ecologia tropical botaram seus pés. A estação é um lugar lindíssimo, rios, matas exuberantes e fauna, muuuuita fauna. Trabalhar aqui é uma maravilha, refeitório com comida de primeira, cabines de alojamento com todo o conforto necessário para uma vida cômoda. Trilhas pavimentadas, árvores georreferenciados, imagens de satélite, mapas de solo, vegetação e rios detalhadíssimos. Tem mais, laboratórios com balanças de precisão, máquinas de PCR (para análises genéticas), herbário, coleção zoológica, biblioteca, bancop de imágens de plantas e algumas outras coisas mais que ainda nem conheci. Obviamente o preço para usar tudo isso não é dos mais amistosos, 29 USD por dia. Mas com tudo isso e 3 refeiçõesaté que não é tão caro. Claro, pra quem se acostumou a comer charque com feijão e andar por trilhas feitas a própio punho pelas matas de Alagoas isso é luxo. Mas foi à partir daí que percebi a distância que nos separa dos gringos em termos de recursos para fazer ciência. Durante minha estadia aqui em La Selva conheci a muitos estudantes gringos realizando diversos trabalhos desde teses de graduação, mestrado e doutorado. Inclusive gringos que vieram à La Selva para pensar sobre sua vida e o que vão fazer como projetos. Claro, para eles não é tão pesado tomar um avião à Costa Rica e passar 3 mêses em La Selva coletando dados e gastar 5000 USD de uma sentada. Estudar ecolocalização dos morcegos com gravadores de 20.000 USD, seleção sexual de aves de sub-bosque pintado as bichinhas de amarelo e medindo variações na cor original com um medidor que mais parece uma coisa espacial. Mapear 50ha de floresta e realizar sensos mensais para saber que morre, que nasce, quanto cresce, etc. Isso é fantástico. Mas caro, muito caro.
Mas é também daqui da Costa Rica que vem um dos melhores exemplos de como se pode fazer boa ciência de qualidade com uma livreta de campo, trena e lápis. Daniel Janzen, um gringo adotado pela Costa Rica que vive num parque nacional (Guanacaste) e que há 40 anos vem perturbando os ecólogos com suas teorias e hipótesis que todo mundo quer testar. Daniel Janzen boa parte de seu trabalho com uma livreta de campo, lápis, trena um excelente conhecimento de históiria natural das espécies e muita criatividade. Bom, esses elementos são definitivamente imprescindíveis para a boa ciência. Se aliamos a isso uma boa quantidade de recursos, melhor ainda. Mas sem dúvida o diferencial está na parte que é acessível à todos.
Outros exemplos de vida e de compormisso com a biologia estão por todos lados na Costa Rica, um país que vive do turismo que é atraído pela sua flora e fauna conservada e muito bem administrada em um eficiênte sistema de parques nacionais. Claro, Costa Rica é um país com 4 milhões de habitantes, uma área do tamanho de Sergipe, cheio de montanhas e vulcões. Todos dizem que nessas circunstâncias é fácil conservar a biodiversidade e proteger por lei 25% do país em parques. Isso é certo. Mas essa afirmação não nos ajuda em nada, na verdade, Costa Rica dá um exemplo de que as soluções existem, que eles encontraram as suas. A principal lição que estou aprendendo aqui é que conservar é preciso, possível e prazeiroso. E que a ciência para a conservação é uma das melhores maneiras de fazê-lo.

Em breve mais sobre Costa Rica.