Ontem me tocaste como o vento toca as árvores
Suave e profundo, chacoalhando folhas das ramas mais escondidas.
Aquelas folhas que a muito não sentiam o calor celeste
Foram salvas por teus dedos, que ao mesmo tempo eram consolo e fúria.
Podavas delicadamente ramas velhas com folhas secas castigadas de tempo e memórias
No mesmo instante em que despertavas ardentemente uma folhagem húmeda, oculta e medrosa.
E despertei como árvore velha, secular, acostumada aos sarrabulhos da ventania.
Renovada do mesmo verde que me alimentou por eras.
Contente do vento dos teus dedos, da tormenta de tua boca que livrou do morto de ontem e me encheu do vivo de hoje.
Para Marina.
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