Thursday, October 06, 2005

A gente cresce... e ama o Santa Cruz

Eu confesso! Fui um torcedor fuleiro. Digo fui e explico.
Lembro muito bem da primeira vez que meu pai me levou ao Arruda em 86. Empatamos contra o Guarani em 1x1. Educação futebolística é coisa de pai e não me venham com essa conversinha de que fui influenciado e coisa e tal. Vi o Arruda lotado com a massa tricolor e aí pronto nascia outro tricolor.

Entre lembranças desconexas e coisas assim, lembro que estive na final do pernambucano de 90 no arruda quando ainda que sofrendo muito fomos campeões sobre a Coisa. Desde então fui por algumas vezes ao estádio, mas meu auge de assiduidade e paixão pelo Santa Cruz foi em 93, quando não perdí nenhum clássico e ainda fui para uns dois ou três contra o Central e Vitória. Nem é preciso lembrar como ganhamos aquele campeonato, esse fato já está escrito, gravado e incorporado ao imaginário popular. Uma lição de raça e vontade pra ser ensinada nas escolas como lição de vida.

Depois meu coração tricolor passou a ter outras paixões, veio a adolescência e a descoberta do mundo e isso tomou lugar no meu coração. Veio 95 e eu fui para alguns jogos mas nada muito séiro. Em seguida praticamente abandonei O Mais Querido, posso contar as vezes que fui ao estádio ainda que sempre saia do mundão com a sensação de ter participado de um grande espetáculo, o do futebol. Mas ele, O mais Querido, nunca me abandonou. Sentia pontadas no coração quando por ventura escutava um jogo, me alegrava quando ganhávamos e confesso que sofria calado quando o Santinha ia mal. O adesivo do escudo tricolor nunca saiu do meu quarto e diariamente o olhava e sentia que era tricolor de coração, porque simplesmente não conseguia ser indiferente àquele símbolo.

Mas pra mim é assim, as paixões desvairadas e sempre vieram e foram, mas algumas ficaram, em letargia, esperando que o amadurecimento e a vida as trouxessem a tona outra vez. Um dia me apaixonei pela minha mãe, segundo Freud assim nasce o amor entre mãe e filho. Primeiro ela era só minha, minha mãe, depois cresci e ela era minha castradora um fator de conflito e uma impositora. Depois cresci, amadureci, a compreendi e agora a amo com um sentimento muito mais real e livre. Assim foi também com minha esposa Marina, quando ainda éramos namorados nos amamos, brigamos, nos separamos, entrou em dormência. Depois ressurgiu, um sentimento maduro, são, seguro e compreensivo. Agora estamos colhendo o fruto do nosso amor, vai nascer outro tricolor.

Passei anos sem acompanhar o Santinha. Precisei sair do Brasil, vir pro México fazer meu doutorado e aos 27 anos, longe do Arruda, da massa tricolor ressurgiu minha paixão, meu amor pelo Santinha. E não é porque o Santa está bem agora não. Posso provar que não. Em 2004, pouquíssimo tempo antes de viajar, jogamos a famigerada final contra as Barbies. Eu estava afastado dos estádios e decidi não ir ao Arruda. Acordei esse dia me sentindo estranho, não pensava no Santa Cruz, fui ajudar minha esposa com um paciente seu. Então começou aquela coisa martelando minha cabeça: "Eu vou embora do Brasil por 4 anos e não vou ver o Santa jogar". Resultado, decidi ir ao jogo. Foi horrível a partida, mas sai me sentindo esplêndidamente bem. Não sei se foi porque vi a massa tricolor em festa antes do jogo, não sei se foi porque vi homens chorando feito crianças depois dele. O certo é que sai feliz e contente de torcer para uma equipe tão amada. Vim pro México em julho de 2004 e aí começou tudo, trouxe minha camisa velha, a usava em todos os lugares por onde viajávamos, tirei fotos, mandei até pro Coralnet na seção "tricolores pelo mundo". Acompanhei a agonia do Brasileirão desse ano e tudo mais. Já em 2005, estava eu no mato, numa estação biológica isolada, mas com internet satelital e escutei a partida pelo rádio transmitido online quando o Santa foi campeão por antecipação. E lá na mata no meio do nada do México, vestido com minha camisa tricolor sai pra conversar com os trabalhadores da estação e falar do Santa Cruz. Contra o Grêmio, estava como louco no laboratório escutando a partida e gritei gol altíssimo assustando a todos meus companheiros quando Xavier acertou o canhão no gol de Gallato.

Tenho certeza, minha paixão, meu amor pelo mais querido voltou com tudo, maduro, certo, incondicional e bonito.

1 comment:

Bosquímano said...

Há uma solução para o seu caso de torcedor fuleiro.
vc conhece alguém de algum movimento revolucionário que esteja afim de matar alguns juízes?