O nosso dia de finados no Brasil é conhecido no México por um nome mais claro, “Día de Muertos”. Apesar de a palavra “finados” significar o mesmo em espanhol e em português, os mexicanos preferem nomear esse dia de maneira mais crua, sem esse negócio de finados, defuntos, desencarnados e etc. A morte é a morte e quem padeceu desse mal, ou foi vítima desse fenômeno tão antigo como a vida é morto e pronto, quem sofre de morte é morto e se acabou. Acabou a frescura semântica, mas não o significado social. A morte tem realmente um significado muito complexo entre os mexicanos.
As civilizações pré-hispânicas cultuavam inúmeros deuses, cada qual com seu “domínio” no mundo visível e no invisível. Mas uma coisa era comum entre todos eles: a morte. Vários deuses têm seu nascimento contado através da morte. Contraditório mas verdadeiro, a deusa Coyolxalhqui (clique aqui para ver a foto) é uma divindade totalmente esquartejada. Sacrifícios humanos eram tão comuns quanto os nascimentos entre aztecas e mayas. Depois da conquista espanhola a prática de sacrifícios cessou junto com a maioria dos ritos pré-hispânicos. Mas o imaginário do mexicano continuava povoado de morte. Dessa vez a sua própria morte nas mãos dos conquistadores, sob a espada, a fome e a igreja católica. Essa última por sinal, que não acredita que os mortos voltavam ao mundo dos vivos, foi abrigada a incorporar ou pelo menos tolerar esse culto dos mexicanos à morte como a mais importante ferramenta para a catequização indígena junto com a Virgem de Guadalupe. Tanto foi assim que o dia de mortos passou a ser festejado pelos mexicanos na data católica de finados, 2 de novembro, não era essa a data pré-hispânica.
Mas de onde vem essa maneira tão particular de comemorar o dia de mortos? Na minha singela opinião a grande diferença entre o jeito mexicano e festejar essa data e os demais vem de um simples fato: os mexicanos crêem realmente que os mortos vêm ao mundo dos vivos nesse dia. Ora, se eles vêm porque não recebê-los com festa, comida e baile? Aí repousa a grande diferença. Esse sentimento é realmente autêntico e verdadeiro na gente do México, independentemente de religião. A diferença dos espíritas kardecistas, que também crêem que os mortos vêm ao mundo dos vivos para escrever livros, fazer caridade ou assombração a qualquer dia ou hora. No México a volta dos que já foram tem dia e hora marcada e começa antes do dia 2 de novembro. Primeiro chegam os suicidas no dia 31 de outubro, depois vêm os niños no dia 1 seguidos de jovens, solteiros, casados com filhos, sem filhos e idosos, os últimos já na madrugada do dia 1 para o 2. Ademais, os mortos vêm visitar seus familiares e entes queridos e principalmente matar saudade dos prazeres mundanos como comer, fumar, beber, bailar e há quem diga até trepar. Então, suas famílias preparam um altar com fotos do morto, comidas e bebidas de seu agrado e flores amarelas que indicam o caminho do cemitério à casa. Caveiras de açúcar decoradas com os nomes dos mortos e dos vivos também ilustram as oferendas. Pães com motivos de ossos, doces que simbolizam órgãos vitais. Tudo que é referente à morte pode ser comido numa atitude de burla. Dança-se com a morte (através do morto), se como na mesa com a morte, decoram a casa com morte. Mas a morte tem cara de vida, usa chapéu, sombrero, bigode. A morte toca música, faz comida, usa roupa de vivo. Por todos os lados as caveiras são como pessoas felizes, tocando, comendo, dançando. Por todos os lados as pessoas estão com seus mortos, felizes por recebê-los em casa outra vez, de lembrá-los de dar-lhes de comer e também de chorar por eles. Na verdade somos caveiras ambulantes, seres efêmeros que voltarão para de onde vieram. A morte não escolhe mas recolhe, e recolhe a todos sem exceção. A morte significa vida, sem a morte nada existiria, nada seria. O tempo não correria a o mundo não giraria, pelo menos para nós humanos.
No México não há nada mais natural que a morte. Nessa hora até eu e Marina, céticos e ateus que não acreditam em almas ou coisas assim, esquecemos nossas filosofias e armamos nosso altar em casa pra receber a nossa querida Keka, tomar uma cerva com ela, fumar um cigarro e comer umas coisinhas que ela gostava. Vamos escutar a música que ela gostava e lembrar dela com alegria, e tenho certeza de que ela vem juntar-se a nós aqui e compartilhar esse bom momento com seus compadres.
La muerte se goza, baila y disfruta en México.
Sunday, October 30, 2005
Monday, October 17, 2005
O Vento
Ontem me tocaste como o vento toca as árvores
Suave e profundo, chacoalhando folhas das ramas mais escondidas.
Aquelas folhas que a muito não sentiam o calor celeste
Foram salvas por teus dedos, que ao mesmo tempo eram consolo e fúria.
Podavas delicadamente ramas velhas com folhas secas castigadas de tempo e memórias
No mesmo instante em que despertavas ardentemente uma folhagem húmeda, oculta e medrosa.
E despertei como árvore velha, secular, acostumada aos sarrabulhos da ventania.
Renovada do mesmo verde que me alimentou por eras.
Contente do vento dos teus dedos, da tormenta de tua boca que livrou do morto de ontem e me encheu do vivo de hoje.
Para Marina.
Suave e profundo, chacoalhando folhas das ramas mais escondidas.
Aquelas folhas que a muito não sentiam o calor celeste
Foram salvas por teus dedos, que ao mesmo tempo eram consolo e fúria.
Podavas delicadamente ramas velhas com folhas secas castigadas de tempo e memórias
No mesmo instante em que despertavas ardentemente uma folhagem húmeda, oculta e medrosa.
E despertei como árvore velha, secular, acostumada aos sarrabulhos da ventania.
Renovada do mesmo verde que me alimentou por eras.
Contente do vento dos teus dedos, da tormenta de tua boca que livrou do morto de ontem e me encheu do vivo de hoje.
Para Marina.
Saturday, October 15, 2005
Peseros e Tacos
Há muitas coisas numa cidade que a traduzem. São essas particularidades as vezes nem tão particulares que cobran sentido para os habiantes de uma determinada urbe. Dentre muitas coisas que podem ser representativas da Cidade do México, duas me chamam muito a atenção. A primeira são os "peseros" os micro-ônibus daqui, que junto com as kombis e as carcaças velhas de ônibus da rede pública, são o principal meio de transporte dessa metrópole (depois vem o metrô). Num sistema de concessão pública, a micro-iniciativa privada pode entrar no negócio do transporte público, basta que tenhas o teu "pesero" e compres tua licença e ponha-lo a rodar por aí. Esse sistema tem vantagens e desvantagens. Dentre as desvantagens estão a falta de fiscalização e a corrupção que permeia a relação do Estado mexicano com as associações de "peseristas", que se assemelham muitíssimo a máfia das kombis que havia em Recife. O comportamento desses "peseros" na rua é de assutar. Param em fila dupla, tripla, quádrupla, fecham cruzamentos, correm muito, nunca fecham as portas, são extremamente mal conservados e desconfortáveis e as linhas deixam de circular quando os motoristas decidem que já não querem andar deixando muita gente na rua às 10:30 da noite. As vantagens são: a rapidez e a quantidade de "peseros" na rua. Nunca se pasa muito tempo esperando um ônibus aqui. A viagem é geralmente divertida, ao som de salsas, tecno ou músicas românticas, muitas vezes de Roberto Carlos cantando em espanhol. A decoração dos "peseros" é fantástica. Uns trazem flores no painel que também aloja uma imagem da Virgem de Guadalupe. As laterais do motorista são muitas vezes adornadas por adesivos de mulher pelada ou broches de marcas famosas. Aí dividem espaço com a carteira de motorista do dono do "pesero" colada no vidro, que nunca é o mesmo que está dirigindo. A breguisse mexicana tem um expoente de expressão nas decorações de desses veículos. Ademais, coisas impressionates para brasileiros têm lugar nesses ônibus, que quando estão superlotados a gente entra por trás e passa suas moedas com a passagem ao motorista, que também é cobrador. "Una hasta el Estadio Azteca por favor", grita um passageiro que entrou por trás enquanto suas moedas passam de mão em mão até o motorista, esse por sua parte, enquanto dirige, faz o cálculo da distância até o destino e devolve o troco que novamente regressa de mão em mão até o passageiro. Tenho certeza de que em Recife se umas moedas têm que passar de mão em mão de desconhecidos para chegar ao seu destino nunca chegariam, que dirá do troco. Todos os dias passo pelo menos uma hora e meia dentro dessas caixas de fósforo ambulantes.
A outra coisa que é uma tradução quase literal da Cidade do México são os famosos "tacos". Em quase cada esquina dessa cidade há uma barraca de tacos. É a legítima e verdadeira comida rápida do México, a "food" mais "fast" que existe na face da terra. Talvez por isso seja uma boa tradução dessa cidade que anda a rítmo de tormenta tropical (pra citar esses fenômenos famosos ultimamente). Os tacos consistem em duas tortilhas de milho (uns 10 cm de diâmetro) esquentadas numa chapa depois de molhadas numa mescla de gordura, ólheo e bactérias onde estão bioando a carne que lhes vai dar o recheio. Custam de 3 a 5 pesos em média, variando de acordo com o tamanho e a qualidade da carne, tripa, "pastor", "suadero" (também conhecido como "suda-perro", sua-cachorro em português), "chorizo". Tudo isso preparado em com as mãos, obviamente fica mais gostoso. São sagrados os tacos das sextas-feiras ou os de depois da "borrachera". A rapidez com que trabalham esses homens é inacreditável. Aqui na esquina de nossa casa tem um posto de tacos. Sempre lotado de gente num frenesí alimentício delirante. Animais famintos comendo com as mãos e melando-se de salsa picante, coentro e cebola. Inclusive eu. Peço minha ordem de tacos e em menos de 30 segundos tenha a mão meus cinco tacos de 3 sabores distintos, cobertos com cebola e coentro acompanhados de duas cebolinhas fritas e limão. São dezenas de passoas pedindo tacos em diversas apresentações e quantidades, para comer alí ou para levar e apenas 3 homens cuidam disso tudo preparando tacos de acordo com os pedidos, defumando seus corpos na gordura ebulente que emerge dos "comales" (uma espécie de panela gigante, rasa e com o fundo invertido que emerge da gordura onde flutua a carne alrredor). ^
Para o "chilango" habitante da cidade do méxico, a rapidez é fundamental, as pessoas não aguentam esparar por nada. Não esperam pelos "peseros" não esperam no semáforo, não esperam pra comer. Peseros sempre cheios de gente em pé, gente que come tacos em pé. São a cara da Cidade do México.
Thursday, October 06, 2005
A gente cresce... e ama o Santa Cruz
Eu confesso! Fui um torcedor fuleiro. Digo fui e explico.
Lembro muito bem da primeira vez que meu pai me levou ao Arruda em 86. Empatamos contra o Guarani em 1x1. Educação futebolística é coisa de pai e não me venham com essa conversinha de que fui influenciado e coisa e tal. Vi o Arruda lotado com a massa tricolor e aí pronto nascia outro tricolor.
Entre lembranças desconexas e coisas assim, lembro que estive na final do pernambucano de 90 no arruda quando ainda que sofrendo muito fomos campeões sobre a Coisa. Desde então fui por algumas vezes ao estádio, mas meu auge de assiduidade e paixão pelo Santa Cruz foi em 93, quando não perdí nenhum clássico e ainda fui para uns dois ou três contra o Central e Vitória. Nem é preciso lembrar como ganhamos aquele campeonato, esse fato já está escrito, gravado e incorporado ao imaginário popular. Uma lição de raça e vontade pra ser ensinada nas escolas como lição de vida.
Depois meu coração tricolor passou a ter outras paixões, veio a adolescência e a descoberta do mundo e isso tomou lugar no meu coração. Veio 95 e eu fui para alguns jogos mas nada muito séiro. Em seguida praticamente abandonei O Mais Querido, posso contar as vezes que fui ao estádio ainda que sempre saia do mundão com a sensação de ter participado de um grande espetáculo, o do futebol. Mas ele, O mais Querido, nunca me abandonou. Sentia pontadas no coração quando por ventura escutava um jogo, me alegrava quando ganhávamos e confesso que sofria calado quando o Santinha ia mal. O adesivo do escudo tricolor nunca saiu do meu quarto e diariamente o olhava e sentia que era tricolor de coração, porque simplesmente não conseguia ser indiferente àquele símbolo.
Mas pra mim é assim, as paixões desvairadas e sempre vieram e foram, mas algumas ficaram, em letargia, esperando que o amadurecimento e a vida as trouxessem a tona outra vez. Um dia me apaixonei pela minha mãe, segundo Freud assim nasce o amor entre mãe e filho. Primeiro ela era só minha, minha mãe, depois cresci e ela era minha castradora um fator de conflito e uma impositora. Depois cresci, amadureci, a compreendi e agora a amo com um sentimento muito mais real e livre. Assim foi também com minha esposa Marina, quando ainda éramos namorados nos amamos, brigamos, nos separamos, entrou em dormência. Depois ressurgiu, um sentimento maduro, são, seguro e compreensivo. Agora estamos colhendo o fruto do nosso amor, vai nascer outro tricolor.
Passei anos sem acompanhar o Santinha. Precisei sair do Brasil, vir pro México fazer meu doutorado e aos 27 anos, longe do Arruda, da massa tricolor ressurgiu minha paixão, meu amor pelo Santinha. E não é porque o Santa está bem agora não. Posso provar que não. Em 2004, pouquíssimo tempo antes de viajar, jogamos a famigerada final contra as Barbies. Eu estava afastado dos estádios e decidi não ir ao Arruda. Acordei esse dia me sentindo estranho, não pensava no Santa Cruz, fui ajudar minha esposa com um paciente seu. Então começou aquela coisa martelando minha cabeça: "Eu vou embora do Brasil por 4 anos e não vou ver o Santa jogar". Resultado, decidi ir ao jogo. Foi horrível a partida, mas sai me sentindo esplêndidamente bem. Não sei se foi porque vi a massa tricolor em festa antes do jogo, não sei se foi porque vi homens chorando feito crianças depois dele. O certo é que sai feliz e contente de torcer para uma equipe tão amada. Vim pro México em julho de 2004 e aí começou tudo, trouxe minha camisa velha, a usava em todos os lugares por onde viajávamos, tirei fotos, mandei até pro Coralnet na seção "tricolores pelo mundo". Acompanhei a agonia do Brasileirão desse ano e tudo mais. Já em 2005, estava eu no mato, numa estação biológica isolada, mas com internet satelital e escutei a partida pelo rádio transmitido online quando o Santa foi campeão por antecipação. E lá na mata no meio do nada do México, vestido com minha camisa tricolor sai pra conversar com os trabalhadores da estação e falar do Santa Cruz. Contra o Grêmio, estava como louco no laboratório escutando a partida e gritei gol altíssimo assustando a todos meus companheiros quando Xavier acertou o canhão no gol de Gallato.
Tenho certeza, minha paixão, meu amor pelo mais querido voltou com tudo, maduro, certo, incondicional e bonito.
Lembro muito bem da primeira vez que meu pai me levou ao Arruda em 86. Empatamos contra o Guarani em 1x1. Educação futebolística é coisa de pai e não me venham com essa conversinha de que fui influenciado e coisa e tal. Vi o Arruda lotado com a massa tricolor e aí pronto nascia outro tricolor.
Entre lembranças desconexas e coisas assim, lembro que estive na final do pernambucano de 90 no arruda quando ainda que sofrendo muito fomos campeões sobre a Coisa. Desde então fui por algumas vezes ao estádio, mas meu auge de assiduidade e paixão pelo Santa Cruz foi em 93, quando não perdí nenhum clássico e ainda fui para uns dois ou três contra o Central e Vitória. Nem é preciso lembrar como ganhamos aquele campeonato, esse fato já está escrito, gravado e incorporado ao imaginário popular. Uma lição de raça e vontade pra ser ensinada nas escolas como lição de vida.
Depois meu coração tricolor passou a ter outras paixões, veio a adolescência e a descoberta do mundo e isso tomou lugar no meu coração. Veio 95 e eu fui para alguns jogos mas nada muito séiro. Em seguida praticamente abandonei O Mais Querido, posso contar as vezes que fui ao estádio ainda que sempre saia do mundão com a sensação de ter participado de um grande espetáculo, o do futebol. Mas ele, O mais Querido, nunca me abandonou. Sentia pontadas no coração quando por ventura escutava um jogo, me alegrava quando ganhávamos e confesso que sofria calado quando o Santinha ia mal. O adesivo do escudo tricolor nunca saiu do meu quarto e diariamente o olhava e sentia que era tricolor de coração, porque simplesmente não conseguia ser indiferente àquele símbolo.
Mas pra mim é assim, as paixões desvairadas e sempre vieram e foram, mas algumas ficaram, em letargia, esperando que o amadurecimento e a vida as trouxessem a tona outra vez. Um dia me apaixonei pela minha mãe, segundo Freud assim nasce o amor entre mãe e filho. Primeiro ela era só minha, minha mãe, depois cresci e ela era minha castradora um fator de conflito e uma impositora. Depois cresci, amadureci, a compreendi e agora a amo com um sentimento muito mais real e livre. Assim foi também com minha esposa Marina, quando ainda éramos namorados nos amamos, brigamos, nos separamos, entrou em dormência. Depois ressurgiu, um sentimento maduro, são, seguro e compreensivo. Agora estamos colhendo o fruto do nosso amor, vai nascer outro tricolor.
Passei anos sem acompanhar o Santinha. Precisei sair do Brasil, vir pro México fazer meu doutorado e aos 27 anos, longe do Arruda, da massa tricolor ressurgiu minha paixão, meu amor pelo Santinha. E não é porque o Santa está bem agora não. Posso provar que não. Em 2004, pouquíssimo tempo antes de viajar, jogamos a famigerada final contra as Barbies. Eu estava afastado dos estádios e decidi não ir ao Arruda. Acordei esse dia me sentindo estranho, não pensava no Santa Cruz, fui ajudar minha esposa com um paciente seu. Então começou aquela coisa martelando minha cabeça: "Eu vou embora do Brasil por 4 anos e não vou ver o Santa jogar". Resultado, decidi ir ao jogo. Foi horrível a partida, mas sai me sentindo esplêndidamente bem. Não sei se foi porque vi a massa tricolor em festa antes do jogo, não sei se foi porque vi homens chorando feito crianças depois dele. O certo é que sai feliz e contente de torcer para uma equipe tão amada. Vim pro México em julho de 2004 e aí começou tudo, trouxe minha camisa velha, a usava em todos os lugares por onde viajávamos, tirei fotos, mandei até pro Coralnet na seção "tricolores pelo mundo". Acompanhei a agonia do Brasileirão desse ano e tudo mais. Já em 2005, estava eu no mato, numa estação biológica isolada, mas com internet satelital e escutei a partida pelo rádio transmitido online quando o Santa foi campeão por antecipação. E lá na mata no meio do nada do México, vestido com minha camisa tricolor sai pra conversar com os trabalhadores da estação e falar do Santa Cruz. Contra o Grêmio, estava como louco no laboratório escutando a partida e gritei gol altíssimo assustando a todos meus companheiros quando Xavier acertou o canhão no gol de Gallato.
Tenho certeza, minha paixão, meu amor pelo mais querido voltou com tudo, maduro, certo, incondicional e bonito.
Wednesday, October 05, 2005
Sunday, October 02, 2005
Memórias e Saudades do Recife (ou de mim mesmo)
Reza uma dessas sabedorias populares que às vezes temos que perder algo pra valorar.
Eu particularmente gosto dessas certezas universais que vêm do povo, me parecem traduzir algo que é comum pelo menos à maioria da humanidade, e se é comum a tanta gente é porque tem possibilidades estatisticamente significantes de traduzirem algo verdadeiro.
Uma vez resolvi que queria sair do Recife, dizia: essa cidade já deu o que tinha que dar. Estava cansado e entediado de ir ao Cinema da Fundação (“fundação” para os mais cabeçóides), de tomar uma na Cabidela do Baracho na CDU ou no Empório Sertanejo empestado de jornalistas inteligentes. Estudei metade da minha vida no Marista, andava por ali bebendo e comendo no beco da fome ou do vento, conheci todas as fedorentas ruas do centro nessa época. Isso sim eu adorava, conhecer e aprender os nomes das ruas do Recife. Escutava meu pai falando das ruas por onde passávamos no caminho de Santo Amaro até o 13 de maio e achava incrível que ele conhecesse tanto a cidade. Dizia que a Agamenon Magalhães era mangue e eu me maravilhava em imaginar uma avenida tão grande coberta de mangue e lama.
Quando só havia o “Shopping” Recife minha mãe ainda comprava roupas pra a gente lá na Rua das Calçadas e às vezes nos levava pra provar as roupas. O centro me parecia um lugar perigoso, sujo e feio. Morria de medo dos “trombadinhas” e não achava graça em pegar o 423 – Engenho do Meio às 6 da tarde lotado.
Ah, o Engenho do Meio, bairro de cornos segundo a crença popular (outra vez ela). Ali se decompuseram várias unhas perdidas em peladas nos terrenos baldios, se comemoraram várias janelas quebradas por acidente ou não. Esqueletos de lagartixas pendurados nos fios da “minha rua” Washington Luis e inocências perdidas a custa de muitos babaus e lágrimas formam lembranças reincidentes. O mundo fora do Engenho do Meio era ao mesmo tempo hostil e prometedor. Painho nos levava ao Poço da panela, à Casa Amarela, ao Sítio da Trindade. Ali vi meu pai dançando côco pela primeira vez e morri de vergonha apesar de ter me juntado a ele por alguns segundos depois de muita insistência.
Na minha adolescência a exposição de animais era esperada todo o ano de dia era pra ver bicho que sempre gostei e de noite pular o muro só pra dar emoção (o ingresso era muito barato) e assistir Zé Ramalho tocando, tomar duas cervejas porque não podia mais e voltar pra casa andando em bando era o máximo da independência. Mas também saía com meus amigos do Marista, todos revolucionários então, para tomar uma na Boa Vista, na Rua do Bom Jesus, quando essa ainda não era “chic”. Ali, nos afastávamos da “massa cocota” que andava pelo Recife antigo e íamos encher a cara, planejar a revolução comunista e filosofar antes de tomar banho de cueca no (antigo) Marco Zero.
Mas voltando ao assunto, eu queria sair do Recife e minha sorte é que nos últimos 3 anos de Recife, saia com freqüência para temporadas de trabalho de campo em Ibateguara, AL. Enfiava-me no mato por 5 ou 6 dias só pra sentir saudade e voltar ao Empório, à Fundação, ao Baracho... Ir ao centro com algum compromisso, sei lá qual, e passar horas caminhando pelo bairro de Santo Antônio entrar no mercado de São José e sentir cheiro de peixe, ver as lojas de produtos de macumba e pensar: Que louco isso aqui!. Comprava cigarro a retalho, tomava um caldo-de-cana e ficava ali de espectador olhando o movimento dos recifenses, gente banguela, camisas desabotoadas no umbigo, galegos barbudos de olhos verdes com cara de tabacudo. Sempre demorava no centro, voltava caminhando ao terminal do 423 - Engenho do Meio (não sei porque tenho fixação por esse número) que fica na Guararapes (eu gosto de chama-la Gottan Citty) comprava um picolé e ia pra casa contando as funerárias da Caxangá.
Agora moro na maior cidade do mundo a Ciudad de México, e por mais que esteja adorando viver aqui e descobrir coisas muito interessantes que já começam a fazer parte de mim, ainda lembro dos rios, das pontes, da catinga das ruas, do Cabeça de Touro, das conversas com o vigia e sinto saudade. Aqui tem catinga nas ruas, tem mercados e camelôs que vendem discos piratas, tem kombeiros legalizados que andam a 180/h e esculhambam o trânsito, têm feira na minha rua 3 vezes por semana com gente louca gritando “verdura de a peso”. Tem poetas nas ruas recitando e pedindo uma “intera” pra qualquer coisa, têm bairro pobre e bairro rico, tem gente feia, banguela e com camisa desabotoada no umbigo, tem até galego barbudo com cara de tabacudo. Se os mexicanos se esforçam transformam essa megalópole em um Recifão, com mundão e tudo o estádio Azteca. Mas falta a memória de pertencer e isso só tenho no Recife. Isso faz do México algo para descobrir, desfrutar, padecer e ir. Ir ao recife e contar tudo aos meus amigos revolucionários numa cachaça no Baracho. Agora que momentaneamente o perdi, dou mais valor ao Recife.
Eu particularmente gosto dessas certezas universais que vêm do povo, me parecem traduzir algo que é comum pelo menos à maioria da humanidade, e se é comum a tanta gente é porque tem possibilidades estatisticamente significantes de traduzirem algo verdadeiro.
Uma vez resolvi que queria sair do Recife, dizia: essa cidade já deu o que tinha que dar. Estava cansado e entediado de ir ao Cinema da Fundação (“fundação” para os mais cabeçóides), de tomar uma na Cabidela do Baracho na CDU ou no Empório Sertanejo empestado de jornalistas inteligentes. Estudei metade da minha vida no Marista, andava por ali bebendo e comendo no beco da fome ou do vento, conheci todas as fedorentas ruas do centro nessa época. Isso sim eu adorava, conhecer e aprender os nomes das ruas do Recife. Escutava meu pai falando das ruas por onde passávamos no caminho de Santo Amaro até o 13 de maio e achava incrível que ele conhecesse tanto a cidade. Dizia que a Agamenon Magalhães era mangue e eu me maravilhava em imaginar uma avenida tão grande coberta de mangue e lama.
Quando só havia o “Shopping” Recife minha mãe ainda comprava roupas pra a gente lá na Rua das Calçadas e às vezes nos levava pra provar as roupas. O centro me parecia um lugar perigoso, sujo e feio. Morria de medo dos “trombadinhas” e não achava graça em pegar o 423 – Engenho do Meio às 6 da tarde lotado.
Ah, o Engenho do Meio, bairro de cornos segundo a crença popular (outra vez ela). Ali se decompuseram várias unhas perdidas em peladas nos terrenos baldios, se comemoraram várias janelas quebradas por acidente ou não. Esqueletos de lagartixas pendurados nos fios da “minha rua” Washington Luis e inocências perdidas a custa de muitos babaus e lágrimas formam lembranças reincidentes. O mundo fora do Engenho do Meio era ao mesmo tempo hostil e prometedor. Painho nos levava ao Poço da panela, à Casa Amarela, ao Sítio da Trindade. Ali vi meu pai dançando côco pela primeira vez e morri de vergonha apesar de ter me juntado a ele por alguns segundos depois de muita insistência.
Na minha adolescência a exposição de animais era esperada todo o ano de dia era pra ver bicho que sempre gostei e de noite pular o muro só pra dar emoção (o ingresso era muito barato) e assistir Zé Ramalho tocando, tomar duas cervejas porque não podia mais e voltar pra casa andando em bando era o máximo da independência. Mas também saía com meus amigos do Marista, todos revolucionários então, para tomar uma na Boa Vista, na Rua do Bom Jesus, quando essa ainda não era “chic”. Ali, nos afastávamos da “massa cocota” que andava pelo Recife antigo e íamos encher a cara, planejar a revolução comunista e filosofar antes de tomar banho de cueca no (antigo) Marco Zero.
Mas voltando ao assunto, eu queria sair do Recife e minha sorte é que nos últimos 3 anos de Recife, saia com freqüência para temporadas de trabalho de campo em Ibateguara, AL. Enfiava-me no mato por 5 ou 6 dias só pra sentir saudade e voltar ao Empório, à Fundação, ao Baracho... Ir ao centro com algum compromisso, sei lá qual, e passar horas caminhando pelo bairro de Santo Antônio entrar no mercado de São José e sentir cheiro de peixe, ver as lojas de produtos de macumba e pensar: Que louco isso aqui!. Comprava cigarro a retalho, tomava um caldo-de-cana e ficava ali de espectador olhando o movimento dos recifenses, gente banguela, camisas desabotoadas no umbigo, galegos barbudos de olhos verdes com cara de tabacudo. Sempre demorava no centro, voltava caminhando ao terminal do 423 - Engenho do Meio (não sei porque tenho fixação por esse número) que fica na Guararapes (eu gosto de chama-la Gottan Citty) comprava um picolé e ia pra casa contando as funerárias da Caxangá.
Agora moro na maior cidade do mundo a Ciudad de México, e por mais que esteja adorando viver aqui e descobrir coisas muito interessantes que já começam a fazer parte de mim, ainda lembro dos rios, das pontes, da catinga das ruas, do Cabeça de Touro, das conversas com o vigia e sinto saudade. Aqui tem catinga nas ruas, tem mercados e camelôs que vendem discos piratas, tem kombeiros legalizados que andam a 180/h e esculhambam o trânsito, têm feira na minha rua 3 vezes por semana com gente louca gritando “verdura de a peso”. Tem poetas nas ruas recitando e pedindo uma “intera” pra qualquer coisa, têm bairro pobre e bairro rico, tem gente feia, banguela e com camisa desabotoada no umbigo, tem até galego barbudo com cara de tabacudo. Se os mexicanos se esforçam transformam essa megalópole em um Recifão, com mundão e tudo o estádio Azteca. Mas falta a memória de pertencer e isso só tenho no Recife. Isso faz do México algo para descobrir, desfrutar, padecer e ir. Ir ao recife e contar tudo aos meus amigos revolucionários numa cachaça no Baracho. Agora que momentaneamente o perdi, dou mais valor ao Recife.
Saturday, October 01, 2005
Justiça para o Futebol
Mais uma vez o futebol nordestino é prejudicado na fase final de um campeonato. Não gosto de acreditar em teoria da conspiração, mas vender jogos está em voga no Brasil. Admito que o Santa não fez a sua melhor partida, perdeu gols, errou passes e marcou mal. Mas o Grêmio ganhou por 2x0 a pulso, ainda que pareça extranho dizer que um resultado de 2x0 é a pulso. Mas foi, o Grêmio ganhou esse jogo na raça e com 2 a mais, um no campo e outro nas arquibancadas. Justamente quando o Santa Cruz estava reagindo no jogo, tocando a bola e mordendo, o infâme árbitro expulsou uma peça chave do efetivo tricolor do Recife num erro absurdo de interpretação. Mais uma vez o Grêmio está na segunda divisão e o clube dos 13 faz de tudo pra mandá-lo de volta à primeira, como fizeram quando mandaram 12 de uma vez à primeira divisão. Não eximo o Grêmio de mérito nesse jogo, mas derramo minha ira sobre a recorrente prática de dar uma mãozinha aos times do sul pra sair da segunda. Não dá mais!!!!! Justiça para o Futebol!!!!
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